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domingo, 12 de setembro de 2010

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Às 8 horas de 12 de setembro de 1948 em Santiago do Boqueirão,
Rio Grande do Sul, nasce o primogênito de Zaél Menezes Abreu e
Nair Loureiro de Abreu, Caio Fernando Loureiro de Abreu.

Hoje se estivesse vivo estaria completando 62 anos.

Sua luz era intensa demais para a terra e ele foi brilhar nos céus,
deixando seus raios luminosos por todos os lugares onde passou.

Fica aqui minha homenagem ao poeta maior,
tão amado e também tão incompreendido no seu tempo
com a violência e a perseguição da ditadura.
Perseguido por sempre escrever o que sentia e defender o que acreditava,
se criou em torno da sua pessoa uma imagem marginalizada,
mas nunca se deixou intimidar.

Se foi, mas se fez eterno.



♫ O amor é azulzinho ♫



E eu que quis fazer de mim algo tão claro como um rio sem profundidade...


(Caio F.)




... precisava sair daqui.
Deste planeta que, tão freqüentemente, parece não comportar a sensibilidade.


(Caio F.)



Crônica em homenagem a Caio F. Abreu

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Crônica em homenagem a Caio F. Abreuz.

Hino à vida


Não conheço pessoalmente o escritor e jornalista gaúcho Caio Fernando Abreu, mas acompanho com instigante adimiração a sua resistência contra a AIDS. Os condenados à morte, como Caio, que continuam acreditando na vida, dobram o coração da gente e fazem orgulharmo-nos e sermos humanos.

No seu artigo de sábado em Zero Hora, Caio Abreu, deu-nos um explêndido relato do fragor de emoções que se desenvolve no íntimo de um ser que a doença fatídica espreita, quando então o impulso de vida se encendeia e o homem ameaçado reúne toda a energia que lhe resta para arremessar-se no combate à morte.

Confrontando no mês passado com o dilema de ir a Montevidéu para assistir à abertura de uma nova livraria, reencontrando-se com seus laços literários e de amizades, viajar a Santiago do Boqueirão, sua terra natal, onde se inaugurava uma foto sua na casa de cultura local, ou estirpar sua vesícula, perigosamente necrosada, Caio, depois de penosa hesitação, dirigiu-se a Santiago.

Prorrogou a data da cirurgia urgente e imprecindível à sua sobrevivência para dar prosseguimento à sua vida. Notável: é preciso antes de tudo continuar vivendo e não fugir dos acontecimentos marcantes, não permitindo que eles se evaporem pela ausência. Transformou a viagem exaustiva de automóvel até quase a fronteira num passeio agradável pelas planuras do Pampa, cujas delícias visuais ele cantou magistralmente em sua crônica.

Era o homem escandido pela enexorabilidade da morte que se extasiava diante da natureza ainda mais bela da iminência da despedida. Era o gaúcho agarrado com o fascínio ao solo do berço, conformado talvez com a idéia de que aquela exuberante paisagem de sua origem fosse em breve oferecer-se a ele também como dadivosa sepultura.

Caio Abreu, como todas as pessoas que conversam com a morte, tem um encanto superior e delicioso pela vida. Extrai dela riquezas e atrativos que não são avaliados ou percebidos pelos sentidos das pessoas comuns.

É comovente que Caio tenha deixado para dias depois a delicada extração da sua vesícula, atraindo-se à viagem de Santiago. Primeiro, era preciso viver para só depois à tentativa de continuar a viver. Antes de tudo, celebrar a vida. Só mais tarde, tratar de preservá-la. Viver primeiro, deixar para enfrentar a morte mais adiante. Há pressa de viver, de colher o momento que passa, sob pena de ele jamais voltar a ser proporcionado. A vida há que ser vivida, mesmo que isso importe em risco para ela. Que comovente decisão!

Que opção maravilhosa se desenhou ante o cérebro de Caio: ir ao encontro da oferta, para só mais tarde encarar a ameaça. O presente foi-lhe prioritário ao futuro. Se a morte o desafiava ele preferia aceitar o desafio da vida.

Esses homens que contornam o destino com maestria dos heróis ensinam-nos a sermos felizes. Eles nos dão consciência de quão beleza é a vida, ainda que teimemos burramente em não percebê-lo. Não conheço Caio Abreu. Ou melhor, passei a conhecê-lo profundamente depois que o li no sábado, banhado em lágrimas. Ele é feito de uma nobre argila que molda os homens superiores e verdadeiros.

A última missão que eu passo a ter é de que um dia eu ainda possa vir a ser como ele.

............................................................. Paulo San'Ana

..............................................................Zero hora de 4 de janeiro de 1996

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O Paulo Sant'Ana estava se referindo a crônica "Raiz no Pampa"


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