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sábado, 1 de janeiro de 2011


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As dúvidas se diluíram e eu tive certeza: tratava-se realmente de um anjo.
Não sei se arcanjo ou serafim, mas indubitavelmente, irreversivelmente,
inconfundivelmente — um anjo. Olhei-o, então. Acreditei que o momento
houvesse chegado, e olhei-o. Confesso que esperava um sorriso ou qualquer
outra manifestação dessas de afeto. Mas não houve nada disso.
Não pude sequer perceber se era moreno ou louro, castanho ou ruivo.
O que aconteceu foi apenas um clarão enorme e um ruído quase ensurdecedor
de asas... como se diz mesmo?... ruflando, é isso: um ruído quase ensurdecedor
de asas ruflando. Em seguida saiu pela janela aberta,
alcançou os galhos mais altos dos plátanos desfolhados e desapareceu.
Julguei ainda ouvir a voz dele dizendo que voltaria, mas não explicou quando.
Não sei também se disse isso apenas por gentileza,
para me consolar, ou se realmente pretende voltar um dia.

(...)

Dentro de mim existe alguma coisa que espera a sua volta.




(Caio F. Abreu - Réquiem por um Fugitivo)

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